O novo nunca foi tão desejado como vem sendo nestes dias, minha noite foi curtíssima e mal esperou para terminar. Ás nove da madrugada o sol já estava esquentando a cama e despertando o espírito que há tempos eu tentava acordar. A soneca que costumava ser ativada no mínimo três vezes antes de levantar nem foi utilizada desta vez. Pulei da cama como quem tinha um grande encontro no fim da tarde e corri para o banho. Ainda não inventaram nada melhor que uma boa chuveirada pra espantar alguns fantasmas que insistem em te seguir.
Tudo limpo, agora é hora da faxina, som no último volume, janela aberta. Começo pelo computador; apago conversas, fotos, alguns trabalhos inúteis da faculdade, umas ilustrações que nem se fosse pra agradar, minha mãe falaria que estavam boas. Textos dos momentos de desespero, formulários, logs, cookies... Vai tudo pro lixo, o lance agora é aprender o tal do desapego.
Tô começando a gostar disso, nada como dar um limpa na vida. Opa! Olha o celular ali dando sopa, vai ser um prato cheio pra o tal desapego, e lá se vão às chamadas recebidas, as não-atendidas, as efetuadas, fotos, vídeos, lembretes... Aaaarrrggg quanta coisa! Quase me esqueço das mensagens e, como quem não quer nada resolvo dar uma olhadinha: tem mensagem que já completou aniversário, que dó! Vai demorar no mínimo mais dois anos para que outra pessoa me mande mensagens como essas e, mesmo assim, outra pessoa, outra ocasião, outras mensagens... Ah não, mensagem não! Nunca imaginei que pudesse ser tão difícil apagar uma mísera mensagem, estava tudo tão bem até agora. Se eu fosse um pouquinho mais esperto teria ido direto ao "apagar todas as mensagens", assim me poupava desse dramalhão mexicano, que querendo ou não, revive um turbilhão de coisas que estavam prestes a hibernar, e só seriam acordadas na primavera caso faltasse comida. Não tem jeito, fecho o olho e pronto, ou é agora ou nunca, e lá se foram as benditas.
Mural em ordem e os porta-retratos também, a escrivaninha um lixo só, tem papel de balinha, trident, twix, até uma tampa da fiel
Vôdeckah do último esquenta. O armário está em ordem. Desde que decidi que iria ser um cara organizado, pelo menos com as roupas, minha vida ficou bem mais fácil.
Virar o colchão, alguém aí se lembra de fazer isso? Com a promessa de 2007 viro meu colchão toda semana e troco as fronhas de travesseiro dia sim, dia não. A única coisa ruim de dormir em cama de casal com quarto travesseiros é porque fica mais coisa pra lavar no fim das contas. Mas o pequeno trabalho de “jogar” tudo na máquina não paga a satisfação de ter a cama cheia, ou quase cheia. Desta vez o cesto de roupa vai ficar lotado, até umas roupas que estavam muito tempo sem usar vão junto.
Um pano no chão e o quarto já respira mais aliviado e, de certa forma eu também. Não que essa sessão de desapego vá me livrar completamente de tudo que um dia foi novo. Isso não está sendo feito para esperar algo novo ou apagar completamente tudo que passou, não por isso, só achei melhor desvincular algumas coisas para que não cutuquem algumas feridas que estão ansiosas para serem cicatrizadas.
Vou me desprender porque eu sei que elas são fáceis de serem encontradas, ainda mais quando todas as peças e os botões sempre estiveram ali, no lugar de sempre, com um toque tudo viria à tona.
Quero estar novo, zerado, como aquele computador que você acabou de comprar na loja, sem vícios, sem spywares, para quem sabe um dia instalarem um programa que comece a rodar novamente tudo que um dia foi bom, e para que um novo ciclo gostoso e torturante comece novamente.
Warley Vieira