Agora, o piano nervoso fecha meus olhos, me abraça bem forte e sinto sua mão pequena passeando pelo cabelo, sua voz no ouvido me acalmando e as palavras doces me embalando nos desejos mais secretos. Os versos que doeram pra sair presentearam meus ouvidos como a mais pura música, me envolvendo ainda mais naquele momento mágico, que consigo reviver agora.
As oscilações da melodia se intercalam com a respiração e o mar de pensamentos bons. É incrível como, aqui dentro, os pensamentos vão e vem dessa forma. É mágico! Ficaria por um bom tempo viajando nisso, passaria horas ouvindo o som do seu coração através desta música. Posso sentir todos os desejos daqueles dias, vejo seu medo através dos dós, mis e fás; incansavelmente curtiria por horas, dias, como se nada no mundo, nem ninguém, pudesse me tirar isso. Dessa forma, cada momento materializa-se, torna-se único.
Quinze vezes foram suficientes para poder relembrar dois curtíssimos anos ao seu lado. Há quem diz que me torturo, mas longe disso, foi a forma que encontrei para lidar com meus sentimentos. Já se passaram seis meses de saudade, semanas maravilhosas, algumas experiências mal sucedidas, muitas lágrimas mal amparadas e desejos não realizados. As coisas já não machucam tanto como no primeiro dia, por isso, é bom reviver e lembrar o lado bom de tudo para conservar o que alimentamos e moldamos cuidadosamente juntos.
Já achei meu equilíbrio. Algumas coisas doem e vão doer, algumas palavras ainda vão soar muito estranhas aos meus ouvidos que se acostumaram com as doces, e o corpo vai sentir pra sempre a falta da sua mão que o afagou nos melhores e piores momentos da minha vida. Mas assim vou caminhando, talvez um pouco sem graça ou um tanto sem encaixe, mas não mais sem a vontade de viver. Com calma e muita cautela vou seguindo meu caminho longe do seu, mas com o pensamento sempre perto do seu coração. Cada vez que um pedacinho seu tentar se esconder vou fazer questão de colocar os fones, aumentar o volume, fechar meus olhos e sentir você bem perto, como agora.
Isso não é coisa de neurótico apaixonado, você sabe que não. É o mais puro amor, que não quero e não pretendo esquecer.
Warley Vieira